Amor de mãe


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A minha mãe é um ser estranho.
Sempre vivi num ambiente de poucos recursos, morava em casa dos meus avós até aos 12 e só nessa altura é que eu e os meus pais passamos a morar numa casa nossa.

O meu pai chegou a frequentar o 5º ano (na altura chamava-se 'classe') mas a minha mãe ficou pelo 4º ano sendo que começou a trabalhar pouco tempo depois, por isso no que diz respeito a conhecimento e escolaridade eles não têm muita formação. Por isso, e sabendo que isso é importante, sempre tentaram proporcionar tanto a mim como à minha irmã uma boa educação e frequência escolar. Acontece que a minha irmã, que é mais velha do que eu, ficou pelo 9º ano e eu sou a 2ª pessoa em toda a minha árvore genealógica a entrar para a faculdade, como tal os meus pais sentem-se orgulhosos nisso. 

Apesar da minha mãe sempre querer que eu fosse médico, nunca me deixei influenciar por isso, mas a verdade é que gosto da área da saúde, especialmente neurologia, medicina legal e, mais recentemente, odontologia.

Tenho notas razoavelmente boas, bons conhecimentos linguísticos e informáticos, tenho destreza manual e aptidão física, digamos que sou totipotente! E isso deixa qualquer pai babado. Acontece que a minha mãe baba-se demais!!! E quem a conhece sabe que quando eu não estou presente ela fala de mim pelos cotovelos enumerando as minhas inúmeras qualidades, porque quando estou presente e ela começa a embaraçar-me a frente de outras pessoas, eu olho-a nos olhos, "arreganho a sobrancelha" e ela faz sinapse que não estou a gostar da conversa!

Contudo, ela não sabe da minha orientação porque crescendo num ambiente conservador e ignorante, tanto ela como o meu pai têm uma opinião errada sobre isso. Porém a minha mãe mostra-se mais aberta nesse sentido, já que gosta de ver a "série das fufas" (aka The L Word), dá-se bem com o filho da vizinha que é maricas e concorda com o casamento entre dois paneleiros. Mas isto são os filhos dos outros, porque quando diz respeito aos nossos filhos a coisa muda de figura e conhecendo-os como eu os conheço, nunca iriam aceitar esse facto e iriam tentar esconder isso de toda a gente pois continua a ser vergonhoso duas pessoas do mesmo género gostarem uma da outra.

Acontece que não irei ficar a vida toda a "empurrar o cocó para dentro" porque quero ter filhos, apesar de não gostar muito de crianças, ou melhor, da educação de algumas delas. Já fui "pai" duas vezes. Quem criou o meu primeiro sobrinho fui eu, pois o pai biológico deu de frosques e o pai não-biológico (não encontro outro termo) estava a trabalhar no estrangeiro. Cuidei dele até aos 3 anos +- sendo que depois mudaram de casa e passei a ter menos contacto. Com o segundo sobrinho, o pai não-biológico do primeiro que é pai biológico do segundo continua a trabalhar no estrangeiro e ocasionalmente vem a casa, no primeiro meio ano eu dormia em casa da minha irmã pois para além de tomar conta do bebé, tinha também papel de enfermeiro porque ela teve uma infecção durante o parto e então tinha que limpar a abertura, tirar o chamado pus todo pra fora e fazer novo curativo.

Retomando o assunto, quero ter um filho meu. Poderei eventualmente juntar-me ou casar-me com alguém, homem ou mulher, mas arranjar um parceiro para a vida é complicado hoje em dia. Tudo bem que ainda sou novo mas a minha geração é horrível e repugnante e duvido que as pessoas mudem muito em pouco tempo, por isso vejo-me a viver uma vida de solteiro.

Mas voltando ao assunto deste post, apesar de todas as desavenças que tenho com a minha mãe, no fundo gosto dela e queria ser bem sucedido para lhe proporcionar tudo o que ela quis e não pôde ter, assim como ao meu pai.

Nada substitui o amor dos pais e eu gostava de saber o que isso é um dia, mas primeiro pretendo o amor de alguém, mas infelizmente só tenho encontrado girinos imutáveis...

3 comentários:

  1. Ás vezes passo-me com o que os pais esperam de nós, mas quando me ponho a pensar bem, às vezes queremos nós muito mais para eles, através da nossa pessoa, do que eles proprios....

    ps: Inscreve a tua mummy nas novas oportunidades!

    Abraço

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  2. Foi bonito dedicares um post à tua mãe e digo-te que concordo com tudo o que disseste.

    Fica bem.

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  3. Penso que mais dia menos dia terás uma necessidade brutal de partilhares a alegria de teres alguém com os teus pais. Esse dia chegará quando fores verdadeiramente TU e não o filho deles (se me faço entender...).

    Sim, o mundo gay é uma verdadeira merdinha mas pela forma com que escreveste e te descreveste irás encontrar alguém à tua altura, médico ou dentista talvez no local de trabalho. Relax. It takes time.

    Very Best Hug

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