Primavera de dois mil e doze, tão quente e tão fresca que nos deixa na incerteza logo pela manhã do que iremos vestir para sair de casa e que num instante nos abraçamos a esta brisa primaveril.
O relógio aponta 9 horas em ponto e os raios de luz já há muito que entraram pelo quarto adentro. Está na hora de me levantar e preparar as malas, tenho uma viagem para Lisboa pela frente. Despeço-me do Porto às 12:52h — marcava o relógio da Estação de Campanhã pelo qual acertei o meu —, no seu tom cinzento e triste por ver tantas partidas...
São poucas raras vezes que a minha companhia de viagem é minimamente interessante. Pessoas esquisitas e odores estranhos são frequentes no assento ao lado do meu, apesar de eu perder minutos à escolha de um lugar no netTicket da CP — passo a publicidade —. Desta vez resolvi escolher um lugar ao acaso, algures na carruagem 23 junto à janela, permitindo que os campos verdes portugueses me deliciassem a vista.
Até então o lugar ao meu lado encontrava-se vazio e encontrei num livro a companhia que precisava para a viagem. Um pouco ou tanto aborrecido, as linhas que lia já não faziam sentido e perdia-me na pontuação. Pouso o livro, aumento o volume no iPod e fico a ouvir música enquanto olho pela janela.
Distraído de tudo ao meu redor, parámos numa estação que já não me recordo qual, já para além de Aveiro e antes de Coimbra. Passageiros saem, passageiros entram. Chinfrineira usual, de malas a rebolar e suspiros cansados. Nisto apareces tu, por detrás, apanhando-me desprevenido. De imediato fiquei vidrado em ti e, com medo que desse a perceber, desviava o olhar que insistia em percorrer-te o corpo.
Procuras o teu lugar e que, por coincidência desgraçada, era ao meu lado. Sentado ao meu lado, o meu coração pulsava cada vez mais forte, tão forte que via a camisola a mexer e provavelmente seria audível aos mais atentos. O cheiro do teu corpo vai de encontro ao meu nariz, despertando em mim uma certa atracção, certamente seriam as tuas feromonas envolvidas num perfume que não reconheci.
Passei a viagem a pensar sobre a vida — sobre a minha vida —, mas a teimosia e a curiosidade eram mais fortes e não resistia em percorrer a minha vista sobre a tua cara e no teu cabelo que tem um óptimo aspecto!
O meu telefone toca e eu rapidamente o atendo, despachando a pessoa que me estava a ligar pois detesto atender o telefone em transportes públicos. Ao desligar o telefone, reparo que sorrias para mim e— e que belo sorriso! — mostras-me o teu relógio: é igual ao meu. Um relógio Casio que é raro ver-se por estas bandas, tu também o tens e estavas ali ao meu lado.
- É a primeira vez que vejo alguém com um igual! — exclamas tu, ao qual eu concordei de seguida.
Poucas linhas trocamos depois, retomando ao silêncio de palavras proferidas e ao turbilhão de pensamentos. Durante a viagem, enquanto lias os jornais que trouxeste contigo, os meus olhos tentavam ir de encontro aos teus, de uma forma tímida e arriscada. Inocentemente, ainda pensei em tentar abordar-te e dar-te o meu número de telemóvel, mas a vergonha abafava a vontade e limitei-me a criar vários cenários de abordagem, mas nada com sucesso...
Levantas-te e vais à casa-de-banho. Adorava que tivesse sido um convite para te seguir até lá e perder-me nos teus lábios num cubículo minúsculo onde poderia ser muito feliz! Mas não, levantaste-te e nem olhaste para trás, seguiste em frente com os meus olhos a seguirem-te. Passados poucos minutos regressas, com o cheiro a sabonete líquido barato nas mãos.
Chegámos a Lisboa — Santa Apolónia —. Descemos do comboio e dirigimo-nos para a estação de metro. Sigo o teu corpo — que ficava muito bem deitado na minha cama, digo-te desde já! — de uma forma inconsciente mas racional. Ao chegar à entrada para o metro, tu foste carregar o teu cartão e entretanto eu entrei pois o meu passe ainda está válido, descendo as escadas em direcção ao cais. E foi aqui que te perdi de vista.
Será que tinhas voltado para trás? Será que tinhas descido as outras escadas e estavas do outro lado do cais? — questionava-me...
O metro chega, as portas abrem-se e as pessoas, sempre apressadas, não hesitam em sair do mesmo com uma velocidade quase tão destrutiva como a da Katrina. Olho para o fundo do cais e vejo-te! Mas estavas longe e não dava tempo para eu me aproximar de ti...
Paragem após paragem, tentava olhar para as pessoas que saiam, na esperança de te encontrar e saber em qual estação sairias tu. Quiçá não sairia também e arriscava falar contigo —afinal de contas, não tenho nada a perder, o 'não' como resposta e um murro no focinho estavam garantidos! —.
Contudo, apesar da tentativa de te localizar com o olhar, como se estivesse num filme do Robocop, nunca mais te vi. Quando cheguei à minha estação de saída, olhei ao meu redor e não havia sinais de ti.
Será que ter cruzado no teu caminho foi "destino"? Ou terá sido um acontecimento ao acasio?
Mais uma vez, a insegurança tomou poder sobre mim, deixando-me fraco e vulnerável. Preciso de aumentar esta minha confiança e deixar de me preocupar com os pensamentos da plateia. Se continuar assim, muitos serão os que me passarão à frente do nariz sem eu poder fazer algo.
A respeito desta sensação de fome com que estou, aqui já poderei fazer algo! Vou fazer o lanche, esperando que um dia me apareça alguém como o jeitoso da fotografia em baixo e me dê maçã à boca!!!
Sê bem vindo de volta :)
ResponderEliminarE desses receios também eu tenho...
Continuas o mesmo... =) lol
ResponderEliminarWelcome back XD