Menina asfixiada pelo pai resistiu quatro minutos


Enquanto o pai lhe apertava o pescoço com um cinto de roupão, Maria João, de sete anos, tentou defender-se durante "três ou quatro minutos". "Eu queria parar, mas não conseguia", alegou o próprio, ontem, quinta-feira, em tribunal, sem dar uma explicação para o crime.

João Cerqueira Pinto, de 46 anos, foi de poucas palavras e falou sempre num tom baixo e pausado. Inicialmente, limitou-se a admitir ser "tudo verdade" o que está escrito na acusação, e , perante a insistência do procurador do Ministério Público (MP) e dos juízes, foi desvendando, aos poucos, os factos que culminaram no tragédia, na noite de 28 de Maio de 2009, em S. Mamede de Infesta, Matosinhos.


O pai de Maria João confessou ter inventado, na altura, que iria viajar para o Algarve e ali permanecer algumas semanas, de forma a poder "jantar" naquele dia com a menina, com quem só estava esporadicamente após divorciar-se da mãe, dois anos antes. "Fui buscá-la à escola, levei-a aos baloiços e depois fomos para casa lanchar", descreveu. Já no apartamento onde residia, ajudou-a a fazer os deveres e, depois de a criança ver um "DVD da Barbie", chamou-a para a refeição que não chegaria a acontecer.


O arguido explicou que a filha trazia ao pescoço um cinto de roupão "a fazer de conta que era um cachecol" e que, quando estavam os dois no sofá, com ela deitada, começou a asfixiá-la, fazendo uma espécie de "laço". A menor ainda resistiu, mexendo os braços e as pernas, em agonia. "Eu queria parar, mas não conseguia", diria mais tarde João Pinto, ao ser questionado sobre quais os seus pensamentos enquanto estrangulava a criança.




Depressão após divórcio
"Não tenho explicação", repetiu, sempre que instado a revelar o motivo daquela violência. O réu negou qualquer tipo de premeditação no homicídio, argumentando que tudo aconteceu "no momento". E rejeitou ter agido por "vingança" contra a ex-mulher . "Eu ia suicidar-me sozinho, nunca tinha pensado matar a menina. Gostava muito dela", garantiu, frisando que já tinha tentado em ocasiões anteriores pôr termo à própria vida, tendo até ido para a Ponte da Arrábida, de onde não se atirou por falta de coragem.


A "depressão muito grande" que sofreu com o fim do casamento foi por si apontada como a origem daqueles intentos. João Pinto afirmou que voltou a tentar o suicídio após a morte da menina, lançando-se às águas no Cabedelo, em Gaia. Seria localizado, encharcado e em terra firme, horas depois, pela Polícia Judiciária.
O procurador do MP manifestou desconfiança em relação àquela suposta tendência suicida. No caso do Cabedelo, o indivíduo teve o cuidado de deixar os sapatos e o telemóvel na margem.


Por outro lado, o arguido alegou que foi a filha - e não ele - a pôr a tocar, no apartamento, a música de Tony Carreira "Tu levaste a minha vida", tema que até alegou desconhecer. Dessa forma, contrariou a convicção da PJ de que aquele foi mais um indício da preparação do crime.


O pai de Maria João confirmou ter enviado mensagens de telemóvel para a ex-mulher, mencionando, numa delas, que a menina "está a descansar eternamente com os anjos". Um inspector da PJ lembrou igualmente uma SMS do acusado, durante os vários contactos para a sua rendição, em que ele dizia ser "um monstro".
No final do depoimento, no Tribunal de Matosinhos, João Pinto declarou estar arrependido e sentir "uma frustração muito grande".


in JN Online, http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1481737




Eu, definitivamente, não pertenço a este mundo...

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